Assisti com muita curiosidade à apresentação pública do PENT. Não resisto a lamentar que a sua apresentação não tivesse sido efectuada por um governante, apesar de enquadrada por eles. A emoção que os políticos habitualmente imprimem aos seus discursos transmite o entusiasmo que eles sentem pelos projectos. Tratou-se de uma apresentação técnica, que não retira nenhuma qualidade ao seu conteúdo.
Já tinha, o sector de alimentação e bebidas, ficado contentes pelo facto de a Gastronomia e Vinhos terem sido considerados dos 10 produtos fundamentais, e estratégicos, para a promoção e desenvolvimento do nosso Turismo.
Agora com a apresentação formal do PENT (Plano Estratégico Nacional do Turismo) ficámos todos a conhecer as suas linhas orientadoras, e com metas a curto e médio prazo. O documento é um instrumento orientador.
Quem executa ou a quem compete promover as actividades aí propostas. É conhecida a postura tranquila dos portugueses à espera que o Estado faça ou financie. Mas parece-me que compete a todos, empresários e profissionais apresentar projectos que se enquadrem neste plano estratégico. Se calhar falta ainda o orientador do PENT divulgar as formas de acção ou as formas de integração dos projectos dos parceiros do Turismo no Plano Estratégico.
O PENT sugere e apresenta caminhos directos para o Sector.
Não poderemos esquecer que a hospitalidade é um dos elementos diferenciadores mencionados por operadores e outros agentes do mercado. É no capítulo da hospitalidade que se integra a nossa actividade de Gastronomia e Vinhos. Para além das nossas naturais qualidades e atendimento (carácter português brando, afável, quente, comunicativo, receptividade aos estrangeiros), a qualidade da nossa culinária (simples mas executada com produtos de excelente categoria) e dos nossos vinhos (com designações e marcas há muito referenciadas no mercado internacional), e a qualidade dos estabelecimentos e serviço, irão determinar a boa execução do plano, potencializando o bom que há em nós.
Mas não chega a constatação das nossas qualidades. É preciso executar com êxito e melhorar a continuidade. Quer dizer, assegurar que se mantenha a ritmo sem descair a qualidade e portanto garantir a perenidade do sector como elemento diferenciador mas de qualidade reconhecida.
Que planos ou que projectos se devem apresentar para integrar no PENT? Quem o pode fazer?
A segunda pergunta parece a mais fácil e cuja resposta será: todos. Quanto aos projectos ou seus conteúdos a questão é mais delicada.
Se reagirmos por regiões vamos encontrar no PENT as propostas dos elementos distintivos e a contribuição dos produtos para cada região. Não se pode desanimar por constatar que a Gastronomia apenas seja sugerida em três regiões (Porto e Norte, Centro e Alentejo) e Vinhos em duas (Porto e Norte, e Alentejo). O plano como já referi é orientador e isso não significa que, por exemplo, o Algarve não tenha boa gastronomia. Por coincidência é a única região que tem um restaurante com duas estrelas Michelin, que é um guia de grande referência internacional. Aliás, notoriedade internacional é outra das necessidades citadas no plano para a nossa Gastronomia.
Quanto ao desenvolvimento de conteúdos apetece-me transcrever os seus objectivos e potenciais linhas de actuação.
Objectivos da intervenção: Aumentar a notoriedade internacional da gastronomia portuguesa. Assegurar qualidade das esplanadas e dos estabelecimentos. Preparar restaurantes para a recepção de turistas internacionais. Potenciais linhas de actuação: Deverão ser promovidos 4 a 6 pratos típicos considerados representativos da gastronomia portuguesa (presentes ao longo do território nacional) e 4 a 5 pratos específicos por região. Certificação de estabelecimentos de restauração - standards de qualidade. Organizar e promover lista de estabelecimentos de referência a nível nacional e regional. Apoio à qualificação de recursos humanos e à tradução de menus.
Gostaria de poder desenvolver estas sugestões do PENT.
Frustradas as tentativas de funcionamento da Comissão Nacional de Gastronomia, aliás extinta, parece de toda a conveniência a identificação de pratos de cariz nacional e que sejam executados com regularidade em todo o País. Reconheço a dificuldade da tarefa para a qual eu tenho várias sugestões. O excesso de diálogo ou o excesso de consultas sobre este assunto irá naturalmente não só prejudicar o objectivo, como fazer arrastá-lo no tempo. As soluções que parecem óptimas são por vezes inimigas das boas. Como fizeram os espanhóis para que a sua Paella seja conhecida em todo o Mundo? Foi pacífica a decisão? Talvez não tenha sido, mas foi eficiente? É a Paella o melhor prato da cozinha espanhola?
Temos que deixar os excessos de bairrismo e tantos deixar de querer ser pequenos. Estas escolhas, que obrigarão a consultas, não poderão ser longas. E depois têm que ser assumidas com orgulho por todos. Esta será a tarefa mais complicada. As mudanças de mentalidade são lentas… e custosas. Mas alguém terá que decidir e a partir daí executar.
As escolhas regionais (com as novas regiões, ou a indicadas no plano), talvez mais fáceis, têm que obedecer ao mesmo rigor e velocidade.
Quanto à certificação dos estabelecimentos parece-me que a legislação, ou melhor, a verificação do seu cumprimento deveria por começar a ser mais eficaz. Para um turista pouco informado, a multiplicidade de designação dos locais onde se pode comer, tem dificuldade em entender a diferença entre cafés, pastelarias, snacks, …, pois muitas vezes os serviços que prestam são idênticos. Claro que a “Certificação”, no seu sentido mais rigoroso, vai longe. A ARESP, depois do sucesso obtido com o programa Selecção, poderia agora, em parceria com outras entidades, desenvolver um projecto de satisfação desta linha orientadora. A ARESP tem todos os meios para garantir com sucesso este projecto.
Mais polémica será a lista de estabelecimentos de referência. Quem define os critérios? Quem faz a avaliação? Será que os guias que actualmente se publicam em Portugal conseguem adquirir a notoriedade necessária? Porque não lançar um repto ao Guia Repsol e à Academia Portuguesa de Gastronomia? Sem querer classificar este guia como o melhor, as provas dadas merecem a minha confiança.
O apoio à qualificação de recursos humanos e à tradução de menus são objectivos que apenas serão possíveis com o rigor e disciplina da formação profissional. Se calhar não precisamos de mais escolas. Precisamos possivelmente de rever os programas do ensino, os métodos aplicados e naturalmente mais ambição. As escolas devem cada vez mais envolver os profissionais, quer na formação de activos, quer na sua utilização para formação com dinâmica associada à profissão.
Cada vez mais a principal marca de um restaurante é o nome do seu chefe de cozinha. Que cada vez mais é também empresário.
O PENT é um instrumento útil e importante. Assim saibamos tirar partido dele.
Voltaremos a este assunto e outros detalhes associados ao PENT.
Já tinha, o sector de alimentação e bebidas, ficado contentes pelo facto de a Gastronomia e Vinhos terem sido considerados dos 10 produtos fundamentais, e estratégicos, para a promoção e desenvolvimento do nosso Turismo.
Agora com a apresentação formal do PENT (Plano Estratégico Nacional do Turismo) ficámos todos a conhecer as suas linhas orientadoras, e com metas a curto e médio prazo. O documento é um instrumento orientador.
Quem executa ou a quem compete promover as actividades aí propostas. É conhecida a postura tranquila dos portugueses à espera que o Estado faça ou financie. Mas parece-me que compete a todos, empresários e profissionais apresentar projectos que se enquadrem neste plano estratégico. Se calhar falta ainda o orientador do PENT divulgar as formas de acção ou as formas de integração dos projectos dos parceiros do Turismo no Plano Estratégico.
O PENT sugere e apresenta caminhos directos para o Sector.
Não poderemos esquecer que a hospitalidade é um dos elementos diferenciadores mencionados por operadores e outros agentes do mercado. É no capítulo da hospitalidade que se integra a nossa actividade de Gastronomia e Vinhos. Para além das nossas naturais qualidades e atendimento (carácter português brando, afável, quente, comunicativo, receptividade aos estrangeiros), a qualidade da nossa culinária (simples mas executada com produtos de excelente categoria) e dos nossos vinhos (com designações e marcas há muito referenciadas no mercado internacional), e a qualidade dos estabelecimentos e serviço, irão determinar a boa execução do plano, potencializando o bom que há em nós.
Mas não chega a constatação das nossas qualidades. É preciso executar com êxito e melhorar a continuidade. Quer dizer, assegurar que se mantenha a ritmo sem descair a qualidade e portanto garantir a perenidade do sector como elemento diferenciador mas de qualidade reconhecida.
Que planos ou que projectos se devem apresentar para integrar no PENT? Quem o pode fazer?
A segunda pergunta parece a mais fácil e cuja resposta será: todos. Quanto aos projectos ou seus conteúdos a questão é mais delicada.
Se reagirmos por regiões vamos encontrar no PENT as propostas dos elementos distintivos e a contribuição dos produtos para cada região. Não se pode desanimar por constatar que a Gastronomia apenas seja sugerida em três regiões (Porto e Norte, Centro e Alentejo) e Vinhos em duas (Porto e Norte, e Alentejo). O plano como já referi é orientador e isso não significa que, por exemplo, o Algarve não tenha boa gastronomia. Por coincidência é a única região que tem um restaurante com duas estrelas Michelin, que é um guia de grande referência internacional. Aliás, notoriedade internacional é outra das necessidades citadas no plano para a nossa Gastronomia.
Quanto ao desenvolvimento de conteúdos apetece-me transcrever os seus objectivos e potenciais linhas de actuação.
Objectivos da intervenção: Aumentar a notoriedade internacional da gastronomia portuguesa. Assegurar qualidade das esplanadas e dos estabelecimentos. Preparar restaurantes para a recepção de turistas internacionais. Potenciais linhas de actuação: Deverão ser promovidos 4 a 6 pratos típicos considerados representativos da gastronomia portuguesa (presentes ao longo do território nacional) e 4 a 5 pratos específicos por região. Certificação de estabelecimentos de restauração - standards de qualidade. Organizar e promover lista de estabelecimentos de referência a nível nacional e regional. Apoio à qualificação de recursos humanos e à tradução de menus.
Gostaria de poder desenvolver estas sugestões do PENT.
Frustradas as tentativas de funcionamento da Comissão Nacional de Gastronomia, aliás extinta, parece de toda a conveniência a identificação de pratos de cariz nacional e que sejam executados com regularidade em todo o País. Reconheço a dificuldade da tarefa para a qual eu tenho várias sugestões. O excesso de diálogo ou o excesso de consultas sobre este assunto irá naturalmente não só prejudicar o objectivo, como fazer arrastá-lo no tempo. As soluções que parecem óptimas são por vezes inimigas das boas. Como fizeram os espanhóis para que a sua Paella seja conhecida em todo o Mundo? Foi pacífica a decisão? Talvez não tenha sido, mas foi eficiente? É a Paella o melhor prato da cozinha espanhola?
Temos que deixar os excessos de bairrismo e tantos deixar de querer ser pequenos. Estas escolhas, que obrigarão a consultas, não poderão ser longas. E depois têm que ser assumidas com orgulho por todos. Esta será a tarefa mais complicada. As mudanças de mentalidade são lentas… e custosas. Mas alguém terá que decidir e a partir daí executar.
As escolhas regionais (com as novas regiões, ou a indicadas no plano), talvez mais fáceis, têm que obedecer ao mesmo rigor e velocidade.
Quanto à certificação dos estabelecimentos parece-me que a legislação, ou melhor, a verificação do seu cumprimento deveria por começar a ser mais eficaz. Para um turista pouco informado, a multiplicidade de designação dos locais onde se pode comer, tem dificuldade em entender a diferença entre cafés, pastelarias, snacks, …, pois muitas vezes os serviços que prestam são idênticos. Claro que a “Certificação”, no seu sentido mais rigoroso, vai longe. A ARESP, depois do sucesso obtido com o programa Selecção, poderia agora, em parceria com outras entidades, desenvolver um projecto de satisfação desta linha orientadora. A ARESP tem todos os meios para garantir com sucesso este projecto.
Mais polémica será a lista de estabelecimentos de referência. Quem define os critérios? Quem faz a avaliação? Será que os guias que actualmente se publicam em Portugal conseguem adquirir a notoriedade necessária? Porque não lançar um repto ao Guia Repsol e à Academia Portuguesa de Gastronomia? Sem querer classificar este guia como o melhor, as provas dadas merecem a minha confiança.
O apoio à qualificação de recursos humanos e à tradução de menus são objectivos que apenas serão possíveis com o rigor e disciplina da formação profissional. Se calhar não precisamos de mais escolas. Precisamos possivelmente de rever os programas do ensino, os métodos aplicados e naturalmente mais ambição. As escolas devem cada vez mais envolver os profissionais, quer na formação de activos, quer na sua utilização para formação com dinâmica associada à profissão.
Cada vez mais a principal marca de um restaurante é o nome do seu chefe de cozinha. Que cada vez mais é também empresário.
O PENT é um instrumento útil e importante. Assim saibamos tirar partido dele.
Voltaremos a este assunto e outros detalhes associados ao PENT.
Publicada na Revista ARESP Março 2007
Foto Adriana Freire