13.3.08

Livros, livros... 2007


Eu não sei viver sem livros.
Uso livros para todos os fins. Enquanto trabalhei sempre foram parceiros ideais, enquanto gozo a vida são um complemento fundamental de tranquilidade.
Os livros podem ser um excelente acompanhante nas lides profissionais. Permitem-nos a actualização, dão-nos ideias e, especialmente aprendemos muito com eles.
Nos últimos anos temos assistido ao aparecimento de muitos livros de artes culinárias e outros assuntos relacionados com a restauração. Nem todos úteis, nem todos óptimos, mas em todos temos sempre alguma referência que podemos aproveitar.
É curioso constatar que, numa época em que cada vez mais não se cozinha em casa, se publicam tantos livros e revistas de cozinha. Será que o consumidor pretende esclarecer-se para melhor poder exigir enquanto cliente? Ou será apenas para se informar e conhecer melhor uma actividade que está na moda? Ou simples curiosidade?
Longe vai o tempo que nos livros de cozinha apenas apresentavam uma culinária palaciana, ou elitista para a época. Lembro que o primeiro livro que se publicou em Portugal foi a “Arte de Cozinha” de Domingos Rodrigues, cozinheiro da Corte, e em 1680, e foi necessário esperar exactamente mais cem anos para sair publicado o segundo livro de receitas, em português, por Lucas Rigaud, também cozinheiro da Corte, e com o título “Cozinheiro Moderno…”. No século XIX inicia-se uma nova moda de publicação de livros, mas é em pleno século XX que surge o primeiro livro para profissionais de cozinha, ou para a actividade da restauração, que é a “Cozinha Ideal” de Manuel Ferreira com a primeira edição em 1933.
Actualmente publicam-se muitos livros de receitas de cozinha, alguns de histórias de cozinha, história da alimentação e até romances cujo tema, ou actividade dos personagens principais é a cozinha.
Como já vai sendo prática nos meses de Novembro e Dezembro assistimos à divulgação de tantos títulos que, para um viciado como eu, não é fácil acompanhar todos os livros editados nestas datas. É pena que não se publiquem mais livros espalhados durante todo o ano. Eu entendo que a febre natalícia dê melhores resultados comerciais. Mas para quem se interessa por estas artes todo o ano, este período é de sofrimento.
Mas vejamos alguns livros que se publicaram em 2007, não sendo esta lista um inventário exaustivo. Apenas escolhas minhas, e para as quais não irei explicar os critérios de selecção.
A Colares Editora já nos habituou a um conjunto de livros variados na sua colecção Gastronomia. Este ano publicou “À Mesa com Fialho de Almeida” de Maria Antónia Goes, “Doçaria Tradicional do Algarve” e “Cozinha Tradicional do Algarve” de Conceição Amador, “A Arte de Beber Vinho do Porto” de Ceferino Carrera e “Ervas e Mezinhas na Cozinha e na Saúde” de M. Margarida Pereira-Muller. Aproveito para referir a coragem que esta editora tem mantido com esta colecção, publicando livros interessantes mesmo sabendo que alguns deles não serão um sucesso comercial.
Quanto a editores quero realçar o regresso da Assírio & Alvim com uma nova série de Gastronomia e que lançou recentemente 4 títulos: “A Bíblia contada pelos Sabores” com receitas de Albano Lourenço e prefácio de José Tolentino Mendonça, “Sabores do Índico” de Maria Fernanda Sampaio, “Olívia e Joaquim, doces de Santa Clara em Vila do Conde” com fotografia de Duarte Belo e pesquisa documental e selecção de receitas de Maria Jorge Vilar de Figueiredo e Teresa Belo, e ainda um excelente livro “Puro Chèvre” de Adolfo Henriques.
Importantes para conhecer a nossa história da alimentação foi publicado pelas Edições Inapa o livro “Cozinhas, Espaço e Arquitectura” de Ana Marques Pereira, da editora Chaves Ferreira o livro “Os Menus em Portugal” de Isabel M. R. Braga, das Edições Colibri “História da Alimentação” com coordenação de Carlos Guardado da Silva, e da Casa das Letras “A Rota das Especiarias” de John Keay.
Finalmente surgiu em Portugal a tradução do mais importante livro para o entendimento do gosto, publicado pela Occidentalis “Fisiologia do Gosto” de Brillat-Savarin.
Reter ainda a excelente obra “Tradição e Inovação Alimentar” das Edições Colibri e um trabalho coordenado por Maria Manuel Valagão.
Com um interesse cultural invulgar quero citar “Na Cozinha dos Artistas” editado pelo Centro Cultural São Lourenço de Almansil, e que conta com a colaboração de vários artistas plásticos e sua visão da cozinha.
Devo ainda referir a obra de José Avillez “Petiscos com Estilo”, da editora A Esfera dos Livros, pela forma descomplicada como nos são apresentadas goluseimas atractivas.
Ainda sobre receitas, mas desta vez com história do léxico regional, o livro “O Azeite e as Azeitonas” de António Manuel Monteiro, do Editor João Azevedo.
Surgiu também, em final de ano, o livro “Doce Equilíbrio” de Gilberto Costa e Cláudia Viegas e editado pela 100% Foto. Este livro apresenta-nos uma extensa colecção de receitas de doçaria com redução de açúcar ou açúcares alternativos. As ideias são boas. No entanto não devemos confundir a redução do açúcar com uma prática generalizada de redução de açúcar na doçaria tradicional portuguesa. Será impensável reduzir as proporções, por exemplo, no Pudim Abade de Priscos. A solução é termos que reduzir a quantidade de pudim e completar o prato com uma componente de fruta. A doçaria tradicional não deve ser alterada. Devemos sim apresentar alternativas à nossa doçaria.
E para terminar quero citar um livro especial: “Queijos Portugueses” de Maria de Lourdes Modesto e Manuela Barbosa, da Editora Verbo. A qualidade do texto, o rigor da informação merece um destaque especial, confirmando o valor extraordinário evidenciado em todas as obras a que Maria de Lourdes Modesto já nos habituou.
Boas Leituras.