6.3.08

A História e a Mesa




Às vezes penso que me ensinaram mal a História. Aprendi os Reis, as Batalhas, e todo um conjunto de ensinamentos que nos levavam a crer, que os ideais dos nossos Heróis Históricos eram a Vontade Suprema. E acreditávamos.
Foi preciso escorraçar os Mouros? Por uma questão de Fé Cristã? Mas confiscávamos-lhes os bens... Deram-lhes a oportunidade de se converterem? E depois os Judeus? E a cobiça pelas suas fortunas?
Este começo para lembrar que o nosso e actual património culinário foi herdado de todos os povos, independentemente das razões porque os expulsávamos ou lhes ganhávamos terrenos em guerra.
A História não deveria ter esta forma orientadora, quasi com manuais de verdades supremas.
Pois dos Mouros aprendemos a cultivar olivais e laranjais. E o gosto pelas amêndoas e figos.
Ainda nos deixaram a técnica muito evoluída, para a época, do trabalho do açúcar e das massas finas para doces. E a quem devemos o massapão? E os Pasteis de Santa Clara de Vila Real?
E as nossas alheiras? Se não fosse a expulsão dos Judeus haveria alheiras? E a celebração de toda a carne de porco?
E de onde nos vem a habilidade de fazer bons vinhos? Não esqueceremos os Romanos. E as conservas de peixe?
Quer dizer, que quando se despoletaram alguns movimentos identificados na História, pela mudança radical das leis ou das regras, o quotidiano não mudava. E mantiveram-se muitas tradições que agora dizemos que são nossas.
A nossa História está rica de maus ensinamentos. Ou o método do ensino da História. Quantos transmontanos já leram o livro “Três Estórias (Pouco) Doces” do nosso conterrâneo Augusto José Monteiro, onde se ensina a História a partir de coisas simples.
Se assim começarmos a questionar o princípio das coisas, facilmente chegaremos à questão das técnicas culinárias, sem complexos, fazerem parte do nosso património histórico.
Todas as religiões têm regras relacionadas com a alimentação. Que duram há séculos!
Prometo que voltaremos a estas questões.

BOM APETITE!

© Virgílio Gomes
Foto Adriana Freire

Crónica publicada no Jornal da CTMAD Set2005